segunda-feira, março 08, 2010

O Pequeno Quim

A rede balançava, ele dançava, o público jubilava, e Deus – algures – exultava.

Vivaça era a vida do Pequeno Quim, grande no porte, insurrecto petiz de alma, sangue ardente no esculpido corpo, seu instrumento de trabalho. O Pequeno Quim era assim: exuberante como uma multicolorida borboleta, crisálida de eleição, e potente como um furioso touro, acicatado pelo vermelho-chama do fogo que lhe alimentava o Ser: o golo.

Incompreendido pelo estimado mentor (“one touch, two touch, quimmzin-ho goal”), o flamejante aríete do continente negro procurava refúgio nas bancadas, onde era amado como nenhum outro, em pleno auge feudal de D.Mário Jardel, o Primeiro. O Mantorras antes do Mantorras, este sim, a alegria do Povo, com dois joelhos e tudo – pois sem eles não conseguiria bailar Kuduro. Endiabrado, o Pequeno Quim.

Futebol-esquadro? Coisa para operários com bota quadrada, mais Alfaias que Nandos, menos Constantinos que Caos. Geometria sempre foi coisa para maricas. Futebol é Paixão, Calcio não é Catenaccio e Prof. Neca não é senão um calvo Darth Vader, enviado da Estrela da Morte para nos sugar o prazer da sumarenta clementina do beautiful game. O Pequeno Quim não nascera para traçar rectas a esquadro – o Pequeno Quim era o anti-Custódio, antes gingar que quebrar, nascera para emocionar, negra pantera de tardes gloriosas com o azul Dragão ao peito.

Porém, sempre apaixonado pela polémica, o Bigode de António Oliveira decidiu não ouvir os apelos da bancada. A central pedia Quim, a superior pedia Quim, até o tribunal por Quim clamava. Mas a única emoção a Quim ofertada, foi a da despedida. Uma dura, amarga despedida.

Já que o Pequeno Quim se assemelhava a uma locomotiva desgovernada nos trilhos do tapete verde, lá decidiu fazer da fama proveito e transformar a sua carreira numa espécie de percurso de Intercidades que pára em tudo o que é apeadeiro sem pedir licença.

Assim, fica a recordação da trajectória CP-style, com atrasos, croquetes a bordo, crianças a chorar, e claro – golos a brotar do ar condicionado desta carruagem em alta rotação: Leiria, Vila do Conde, Faro, Vila das Aves, Alverca e Estoril. All aboard, the Quim Train.

Sob a asa de um génio indomável, a locomotiva atravessou Oceanos, atropelando Peixes e engolindo Figos, chegando assim à China, continente sem Brunos ou Coentrões de cabelo pejado de parafina.

Qiao Ji Ma, nova identidade do petiz vagão ferroviário, corcel indomável no continente amarelo de carroça puxada a arroz. “What’s in a name? A rose by any other name would smell as sweet”, já dizia Mark Pembridge. Qiao Ji Ma concordava, acenando afirmativamente com o seu potente crânio. O título pode ser outro, mas o texto conhecia semelhante epílogo: golo, golo e mais golo. Ou Kwame Ayew – é assim que se diz golo em chinês…ou pelo menos foi o que o Duah nos contou.

De qualquer forma, após menear as ancas pelas bandeirolas de canto um pouco por toda a Ásia, Qiao Ji Mu decidiu regressar ao País que o viu nascer – o País que deu nome a Zé D’Angola, curiosamente um orgulhoso cabo-verdiano. Ou se calhar não será assim tão orgulhoso, mas cabo-verdiano é de certeza. E o Pequeno Quim - esse - é de novo Pequeno Quim: irreverente, poderoso, calvo, e apostado em tratar a bandeirola de canto como Axl Rose tratava um microfone, pois com Pequeno Quim, o rock n roll nunca morrerá.

5 comentários:

Joao Martinho disse...

e rezam as lendas que nova identidade chinesa o rejuvenesceu atirando-o de novo para a juventude

Moustache Mo disse...

VOTEM NOS BIGODES,seus tarados
BIGODES PRÓ MUNDIAL!!!!!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

Grato pela viagem gratuita a bordo do Quimboio.

P. disse...

Por falar em pequeno Quim... onde anda o Quinzinho (FC Porto)?

Anónimo disse...

Hm...é este mesmo.
Regressou a Angola para dar uma jambe no clube da terra.

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